O descase Tânia Bulhões

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Por: butterfly growth

Quem é Tânia Bulhões?

Tânia Bulhões é uma artista mineira que em 1989 inaugurou seu primeiro ateliê em Uberaba/MG. Em 1991, ela inaugura sua primeira loja em São Paulo. Atualmente é conhecida como uma marca de luxo que vende porcelanas, skincare, perfumes e itens de decoração e casa. As técnicas empregadas que usa são provenientes da França, onde fez sua formação.

Entenda a polêmica

Em 2010 se envolveu na sua primeira polêmica. Ela foi condenada pela Justiça Federal por fraude em importações, acusada de subfaturar mercadorias e movimentar dinheiro ilegalmente. O caso resultou em uma pena de quatro anos, convertida em serviços comunitários e uma multa milionária.

Mesmo assim, a marca Tânia Bulhões, chega aos seus 35 anos de mercado e a médio prazo, a marca planeja atingir faturamento anual de R$ 500 milhões.

Mas todo esse império estaria ameaçado por conta de uma Tiktoker chamada Isa Rangel? Isa Rangel publicou em seu canal a “denúncia “de uma usuária que encontrou uma xícara da coleção Marquesa na Tailândia.

Imagem da Capa do vídeo no perfil de Isa Rangel.

No entanto, segundo a própria marca Tânia Bulhões, o desenho encontrado na xícara, são de limões sicilianos inspirados em Minas Gerais.

Seria então uma xícara viajante? Saída dos confins mineiros para o mundo? Infelizmente não, porque a xícara não tinha o logo da marca.

Claro que isso acabou gerando dúvidas no público. Seria essa xícara encontrada uma cópia? Ou seria a xícara da Tânia Bulhões uma cópia desta?

Tiktokers de vários lugares do Brasil, intrigados com a descoberta começaram a raspar o fundo de suas xícaras para descobrir a origem delas. E ao raspar o logo impresso na parte externa inferior da xícara, descobriram que as xícaras não eram produzidas no Brasil, mas sim na Turquia.

Xícaras com limões sicilianos brasileiros, encontrados na Tailândia, mas produzidas na Turquia. Mas, os limões sicilianos não são brasileiros, sua origem é do sudeste asiático, o que levantou ainda mais suspeitas.

Diante da polêmica a marca se viu obrigada a reconhecer o problema, retirou suas coleções Marquesa, Mediterrâneo, Lírio e Entre Rios e publicou um pedido de desculpas oficial no seu canal do Instagram.

 

Decisão de Tânia Bulhões publicada oficialmente em seu perfil

Você agora deve estar se perguntando, mas qual o problema de a marca fazer suas produções fora do Brasil? Afinal demais marcas de luxo o fazem e nem por isso são alvos de polêmica.

O problema pode sim, ter acontecido no processo produtivo, onde a marca pode ter sido alvo de cópia, no entanto, o maior problema está no Branding da marca.

A marca afirma ser exclusiva e com designs autorais. Além disso, a marca apresenta um storytelling atraente. Veja só esse pequeno trecho do storytelling da Marquesa: 

“As peças da coleção Marquesa são uma homenagem à exuberância da natureza das antigas fazendas de Minas Gerais, traduzida em uma arte delicada e cheia de detalhes, com cores vivas e frutas tropicais.”

Portanto, quem compra Tânia Bulhões não compra somente uma xícara, mas sim, exclusividade e luxo. O que cai por terra quando uma xícara dessas é encontrada em um simples café na Tailândia.

Além disso, o fato de limões sicilianos não serem encontrados comumente nas fazendas mineiras e o fato de a empresária já ter sido alvo de processos, faz com que a credibilidade do que é contado pela marca em sua defesa não seja devidamente creditado.

Tânia Bulhões, Dilleto e Sucos do Bem

Essa história me lembra a história de um sorvete dito italiano, a Diletto.  A Diletto anunciava, por exemplo, que os “picolés goumet” da marca nasceram com Vittorio Scabin, avô do fundador da marca, que produzia sorvetes feitos de neve no extremo norte da Itália, desde 1922, até que se viu obrigado a abandonar o negócio em razão da Segunda Guerra, quando a família migrou para São Paulo. O nonno Vittorio, no entanto, nunca existiu.

E sabe o que esse falso storytelling fez? Na época, havia uma negociação praticamente concluída de compra da Diletto por uma gigante multinacional no Brasil, que também produzia sorvetes e picolés. Depois disso, a multinacional retirou a oferta, diz um ex-funcionário próximo à direção da empresa, que trabalhou na Diletto até 2020.

O consumo caiu depois da investigação. Segundo um ex-funcionário da Diletto ouvido pelo UOL, foi a partir daí que a marca começou a perder força. Um antigo gerente de quiosques da Diletto comentou que os consumidores perderam confiança na marca e a procura passou a cair, culminando no fechamento dos pontos de venda próprios. 

Atualmente essa seria uma marca que possivelmente poderia ser concorrente da Baccio di Latte mas devido a um falso storytelling caiu no esquecimento.

Outra marca que também está esquecida são os Sucos do Bem. A marca contava que as laranjas usadas no suco eram cultivadas na fazenda do sr. Francisco, localizada no interior de São Paulo, num lugar tão secreto que nem o Capitão Nascimento seria capaz de encontrar, e que eram colhidas fresquinhas, todos os dias. Mas depois descobriu-se que na verdade as laranjas eram processadas por gigantes como a Citrus.

Percebe que existe algo em comum com essas histórias?  Todas as histórias querem trazer um tom de proximidade, exclusividade e produções artesanais, algo muito cobiçado pelo público, mas que senão for verdadeiro pode levar uma marca a falência.

Isso não significa que o uso de histórias fictícias não é possível. Elas são muito aceitas na publicidade, desde que fique claro que são fictícias.

O futuro da marca Tânia Bulhões é incerto.  Mas o que é certo, é que não podemos dizer que essa marca foi ou é um case de marketing, como já vi alguns “profissionais” da área falarem. Toda vez que uma marca é pega no pulo mentindo, toda a publicidade perde. O consumidor só reforça seu pensamento sobre a publicidade ser enganosa. 

Como profissional da área, acredito que devemos sempre prezar pela transparência e honestidade, principalmente na construção do storytelling da marca.

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